Trabalhadores processam Volkswagen por condições análogas à escravidão
Quatro ex-funcionários buscam reparação por danos morais e existenciais após exploração na década de 1980

Quatro trabalhadores que enfrentaram condições análogas à escravidão em uma propriedade da Volkswagen do Brasil, no Pará, durante a ditadura civil-militar, acionaram a Justiça em busca de reparação. Cada um deles reivindica R$ 1 milhão por danos morais e R$ 1 milhão por danos existenciais, montantes que refletem o porte da empresa e os prejuízos enfrentados.
O processo é uma continuação de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que solicita R$ 165 milhões por danos morais coletivos e outras medidas de responsabilidade social. A Volkswagen foi condenada em agosto, mas recorreu.
A Fazenda Vale do Rio Cristalino, em Santana do Araguaia (PA), onde ocorreram as violações, pertence à Companhia Vale do Rio Cristalino Agropecuária Comércio e Indústria (CVRC), uma subsidiária da montadora. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aponta que a fazenda, com aproximadamente 140 mil hectares, recebeu incentivos fiscais para a criação de gado, aumentando a responsabilidade da empresa.
Em maio, representantes do ministério participaram de uma mobilização em Redenção, Pará, organizada por movimentos sociais e sindicatos. O caso foi documentado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acompanha a situação.
Os trabalhadores foram recrutados por intermediários, conhecidos como 'gatos', com promessas de emprego digno. A CPT e o Coletivo Veredas relatam que as vítimas eram atraídas por ofertas de remuneração para derrubada de árvores e serviços de construção civil durante a operação da Fazenda Volkswagen, de 1974 a 1986. O advogado José Vargas, do Veredas, destaca que a montadora tenta justificar sua prática como comum na época, mas isso não diminui a gravidade das violações.
Um dos trabalhadores, identificado como Isaías, relembra que ele e seus amigos, ainda adolescentes, foram enganados e passaram meses sob condições degradantes, sem remuneração e em barracas precárias. Eles conseguiram escapar ao inventar uma mentira sobre alistamento militar, o que causou temor nos vigias da fazenda.
A Volkswagen do Brasil afirmou que busca segurança jurídica no Judiciário e reafirma seu compromisso com a dignidade humana e a responsabilidade social. A legislação brasileira define trabalho análogo à escravidão como qualquer atividade forçada ou sob condições degradantes.